terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ablução Areenta

É preciso que te vejas morrer
Para saberes que vives ainda
Pois, se assim não for
Jamais terás tua obra dolorosa, nem teu acalento
E o teu amor, aquele que cultivas dentro de ti
Jamais será de todo teu
Foi-se o tempo de fazeres um tempo novo
Recobrar a tua consciência
Se, para isso, for necessário
Vá buscá-la na tua inocência
Se necessário for uma ablução areenta
Que te dê um novo batismo de crença e fé
Penetrar na profundidade sombria
Deixar a sombra que te assombra
Que todas as máscaras se desfigurem
Pois ignoram a beleza do teu calor
Indiferentes à sutileza do falar
Em troca da tua insanidade
Como se o vazio do céu se expandisse
Sonhos sem sol, como se a tua alma sumisse
Mas, tens teus afins
Que te querem como a um arauto
Anunciando a liberdade de um novo sol
O tempo é o teu guia
Que teus dedos à pena fará raiar.


Autor: Jean Elisio

Simplesmente Poesia

O que é poesia?

Alguns dizem que está em todo lugar
Outros, que está sempre a vagar

Alguns dizem que não é nada
Outros, tudo

Alguns afirmam que é um pedaço da alma
que compartilhamos (sem saber)
Outros dizem sim, mas, fazemos por querer

Alguns dizem que é vazio
Outros dizem, um rio – que nos leva rumo ao mar

Alguns dizem que é amor
Outros dizem que é amar

Talvez poesia seja tudo isso
E ainda tanto a se revelar

Porque para uns ela é dor
Para outros, alegria

Para uns ela é noite
Para outros, dia

Para mim que sou tudo e nada
Simplesmente, poesia...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Marca d’água

MARCA D’ÁGUA

Parece que você está em todo lugar
Em todos os tipos, rostos e gestos
Em cada sorriso, cada lamento
Na força do tempo que insiste em não te esquecer

Está tão viva em meu pensamento
Que sinto tua essência fluir
Por meus olhos secos de amor
Como se fosse todo meu viver

Assim será! Até que em meu peito
Se afogue as doces lembranças de um dia
O ardor ausente, pungente, débil e sem cor
Que aos poucos se vai, como todo meu ser

O Tempo (Crônica retirada de um poema)

Hoje, como nunca, desejei que meu dia tivesse algumas horas a mais. Tantos afazeres: compromissos - que não serão cumpridos; tarefas que não serão executadas - leituras obrigatórias; coisas indesejosas que me fizeram ansiar por aquelas cujo prazer me foge – leituras deleitosas, família, filhos, sorrisos, criação em verso e prosa. Costuma-se dizer que o tempo é objeto de luxo. Temos, constantemente, a sensação de que ele, de alguma forma, sempre nos falta. A rotina diária ilude nossa mente, condiciona-a a fazer coisas, automaticamente, roubando-nos a percepção do próprio tempo. Diz-se que certas atividades podem ludibriar essa propriedade, como, por exemplo: vestir-se olhando para o espelho, usar o relógio no outro braço, que não o de costume, pentear o cabelo com a mão esquerda, se for destro, enfim, mudar a rotina. O problema é que depois de algum tempo todas essas coisas podem tornar-se rotina. Então, o que fazer? Já não me penteio, parei de usar relógio e me ocorre a possibilidade com as roupas. Precisava distrair a mente. Peguei uma poesia, que abordava a questão do tempo, e dediquei alguns minutos, os quais teria de prestar contas mais tarde, a meditar sobre sua mensagem. Não era a primeira vez que subia ao templo de Chronos para reclamar-lhe a presença. Tenho feito muito isso nos últimos anos. Lembrei-me de quando eu tinha tempo para não pensar em nada. Minha riqueza era sua complacência e não importava o quanto se tinha a esperar ou perder, o tempo me fazia entender. Só importava o agora e o caminho a seguir, sem receios do que viria à frente. Mas o tempo é paciente, mais do que todos nós, que somos tão de repente. Nós crescemos, ele não; às vezes, nos perdemos; não do seu olhar. Permitimos por nossas mãos escapar e tentamos o aprisionar, ingenuamente, numa máquina de registrar. O tempo é paciente, mais do que todos nós, que somos tão de repente. Ele também nos fez reféns da nossa própria máquina de contar. Agora, zomba de nós, dia a dia, sem parar. E nessa batalha inglória, o vemos, sempre para frente andar, enquanto ele observa, paradoxalmente, em nós, o tempo sempre voltar. Como se nos oferecesse uma nova chance de recomeçar. Talvez, o melhor mesmo seja seguir a velha receita horaciana, que subjugou o poder do tempo, com tamanha maestria, e se eternizou, por meio da célebre expressão: “CARPE DIEM”. Pois é, não há como dominá-lo. Não há como dominarmo-nos. O tempo urge! Urge, ainda mais, nossa vontade de viver.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cancioneiro

Quero todos os dias
Poder falar de amor.
Sem rima
Sem moldes
Sem a exatidão da língua.
Do amor sincero
cancioneiro
Que não vê, apenas sente
Inevitável
Inocente.
Do amor distante
Do amor que espera
Que não se acaba
Nem desespera.
Quero poder falar de amor
Sem preconceito
Engrandecido
Do amor eterno
Do amor remido.
Só não posso falar de amor
Sem pensar em você.

II Noite Literária - Embaixada da Argentina

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SER POETA

Hoje acordei disposto a romper com o silêncio, vão
A que me impuseram nessa vida, quão!
Dizendo que não daria em nada
Saber além do que deveria
Criar além do que poderia
Acordei disposto a queimar com minhas lavas quentes
Aqueles que me levaram a tal condição
Que me fizeram acreditar não haver descobertas
Enganaram-se!
Descobri que posso ser mais
Do que uma voz santa,
Do que uma névoa branda,
Descobri que sou poeta!